29.10.01

Prezados Coc�bagos,

infelizmente n�o consegui terminar a cr�nica/conto, tive alguns problemas no fim de semana. Mas ele vir�, ainda que tarde. Para que n�o fique o v�cuo, transcrevo trecho de um livro (O Rei, o S�bio e o Buf�o, de Shafique Keshavjee) que pode ensejar alguma reflex�o sobre n�s mesmo e sobre o que vem acontecendo no mundo.

"Ainda h� pouco, ouvindo os concorrentes darem, em duas palavras, o resumo das respectivas cren�as, fui ficando cada vez mais intrigado: tantas diferen�as separam os crentes dos ateus, as religi�es sem�ticas das religi�es orientais; depois, como um raio que rasga o c�u, tive uma esp�cie de revela��o: na imensa diversidade das perspectivas que nos foram apresentadas, h� todavia um ponto em comum que as aproxima. Esqueci de vos dizer tamb�m que, em meu sonho, havia um post-scriptum mais inegm�tico que dizia: 'procurai a agulha e vivereis'. O xeque Ali ben Ahmed, na sua maravilhosa par�bola sufi, deu-nos a chave para a interpreta��o desse mist�rio: a agulha costura e une, ao passo que a tesoura corta e separa. Essa imagem refor�a a revela��o de que falei. O que h�, pois, de comum, em tudo que ouvimos durante esses quatro dias? � a dupla experi�ncia de uma separa��o e de uma uni�o. A lei suprema do Universo � o mist�rio do Esp�rito que diferencia para melhor unir e que liberta para melhor juntar. Isso � verdade para a Trindade crist�, em que o 'Pai' e o 'Filho' s�o ao mesmo tempo diferenciados e um.
Isso � verdade tamb�m na lei da complexidade, em que part�culas se especializam e se agregam em unidades cada vez mais complexas.
Quando os budistas evocam a vacuidade do mundo e do si mesmo, eles convidam a que abandonemos nossa cobi�a. E quando eles nos ensinam a compaix�o, convidam-nos a uni�o sem liames com tudo o que '�'. Quando os hindus nos estimulam para ir al�m de nossos determinismos e de nossos ego�smos, eles nos conclamam a viver sem livres de qualquer forma de vincula��o. E quando nos estimulam a experimentar a universal e imortal Presen�a divina, � em uma nova forma de rela��o com todos os seres, animados ou n�o. Quando os judeus, os crist�os e os mu�ulmanos nos falam de Deus em sua santidade, seu amor e seu poder, eles nos convidam a n�o nos apegarmos ao mundo vis�vel e a evitar qualquer idolatria de pessoas humanas ou de bens passageiros. E quando judeus, crist�os e mu�ulmanos nos falam de Deus em sua unidade, que criou e amou todos os seres, eles nos convidam a viver novas rela��es de proximidade e de ternura. A santidade, a gra�a e a misericordia, assim como a fidelidade, a solidariedade e a submiss�o s�o outras tantas raz�es e meios para que experimentemos uma liberta��o face a tudo o que nos mant�m prisioneiros e um arela��o de conv�vio com tudo o que foi criado.
...
- Separa��o e uni�o, unifica��o e diferencia��o, desapego e apego, morte e ressurei��o: � o pr�prio dinamismo do Esp�rito. A desgra�a � que, na maioria das tradi��es religiosas e dos destinos humanos, esse movimento � fixo, e mesmo bloqueado. Em lugar de apronfundar essa experi�ncia infinita, muitos crentes e n�o-crentes se desprenden talvez de certas coisas superficiais, mas ent�o ligam-se cegamente a uma determinada pessoa, a uma determinada comunidade, a uma determinada na��o, a uma determinada teoria pol�tica ou filos�fica, a um determinado preceito religioso. E, suprema armadilha, eles se tornam escravos de bens imateriais como a alegria ou a salva��o, a liberdade ou a solidariedade. N�o h� nada mais perigoso que um apego cristalizado. E � em nome dessas religiosidades bloqueadas que, ainda hoje, se mata... Em nome da alegria espiritual, desprezam alegrias humanas leg�timas, e em nome da slava��o massancram os que n�o a queriam ou n�o a compreendiam. Em nome da liberdade como bem absoluto, deixam-se impunes as piores formas de viola��o cultural, econ�mica ou sexual. Em nome da solidariedade erigida em exig�ncia social, massacram-se todas as pessoas 'alienadas' por seu esp�rito pretensamente ' aburguesado' e 'capitalista.
Deus � sempre maior que nossa id�ia de Deus e a realidade mais complexa que nossa experi�ncia dessa relaidade..."



Amigos, desculpem se o texto � extenso. N�o o selecionei pelo aparente fundamento religioso, mas pela valoriza��o da diversidade. Vejo uma identifica��o com a nossa "turma" que era unida, se desuniu, e, agora, reencontra-se (ainda que virtualmente). A diversidade de experi�ncias - e sua generosa troca entre amigos - enriquece a todos. Vejam: antes, �ramos "iguais" ainda que diferentes, nosso maior elo de liga��o era um col�gio; hoje, somos "diferentes" ainda que sejamos os mesmos, nosso principal elo de liga��o n�o � um col�gio, n�o � uma profiss�o; h� um passado comum e uma diversidade de situa��es presentes, de personalidades formadas em experi�ncias diferentes e, mesmo assim trocamos id�ias diariamente. Isto � um prazer para todos n�s (especialmente as COCEBA'S GIRLS), ainda que tantas coisas nos separem. Quanto � situa��o mundial, penso que o texto reflete a hiprocisia das religi�es e das pol�ticas em conflito.
NA VERDADE, EU QUERIA REPRODUZIR UM TEXTO DO VER�SSIMO - ACHO QUE O T�TULO � "OS B�RBAROS" (se n�o for e este, sei que no final fala em b�rbaros) . ESTE TEXTO � MUITO BOM, MAS EU O PROCURO DESESPERADAMENTE E N�O ACHO ENTRE MINHAS TRALHAS. SE ALGU�M TIVER EM CASA, POR FAVOR N�O SE ACANHE.

P.S.: Pixote, tenho at� medo do que vir�: desenvolve essa id�ia dos nomes que combinam.
P.S.: Tentarei terminar meu texto (conto/cr�nica) at� quinta-feira. constata��o. O exerc�cio da advocacia realmente limita a criatividade, ficamos viciados em f�rmulas de peti��o, linguagem rebuscada, texto l�gico-jur�dico... � uma merda, estrangula a criatividade.


Abra�os