9.11.01

Como n�o sei se terei condi��es de postar meu texto no domingo, j� vou mand�-lo hoje. (talvez vcs j� tenham lido l� no outro blog, mas tudo bem). A� vai:

A briga, daquela vez, tinha sido pra valer. Uma briga pela honra. Honra de homem tra�do. Ele estava desconfiado da namorada h� algum tempo e, naquele dia, resolveu tirar a d�vida a limpo. O pior � que ela nem tentou negar nada. Disse de primeira, na cara dele, que havia sa�do com outro sim, e da�? E completou o linchamento moral do namorado com uma frase curta, mas com um significado profundo: �E eu gozei�.

Instintivamente, como qualquer animal acuado, ele atacou. Deu um tapa no rosto da menina e saiu batendo a porta antes mesmo de ouvir o primeiro solu�o dela. Nunca havia se sentido assim em toda a vida. Nunca havia experimentado o �dio. J� no carro, acabou descontando no pedal do acelerador todo a raiva que estava em seu peito. Na cabe�a, uma id�ia fixa n�o o deixava raciocinar direito: queria se vingar. Imaginava chegar na faculdade, no dia seguinte, com uma mulher maravilhosa, tipo capa de revista. Iria dizer para todo mundo que j� estava com essa outra h� muito tempo e inventar hist�rias sobre a frigidez da agora ex-namorada. Queria humilh�-la publicamente. Transform�-la em motivo de chacota entre os amigos. V�-la chorando pelos cantos...

Pensava justamente nisso quando aconteceu o acidente. Ele estava absorto demais em suas fantasias para perceber que o sinal do cruzamento bem a sua frente havia ficado vermelho de repente, sem nem passar pelo amarelo. Felizmente, a batida nem foi muito forte. O susto foi bem maior. Ele desceu correndo do carro, para ver se o outro motorista estava bem. Se j� estava nervoso por causa da briga e da batida, ficou ainda mais quando notou que o outro carro era uma Ferrari estalando de nova.
� Putz. T� fudido.
Quase n�o acreditou quando, de dentro da Ferrari, saiu uma morena fenomenal, estilo Sheila Carvalho, s� que ainda mais gostosa. E ela estava sorrindo. Sorrindo para ele!
� Que confus�o, hein? � disse a mulher, que o comia com os olhos.
� Acho que n�o vi o sinal fechado � comentou o rapaz, meio sem gra�a.
� Ningu�m teve culpa de nada, gatinho. Ou melhor: foi culpa do destino.
� O qu�??
� Foi o destino que fez a gente se encontrar aqui. Eu acredito muito nessas coisas.
Ele n�o estava entendendo nada. Havia acabado de bater no carro daquela mulher e, ao inv�s de brigar, ela o estava azarando. E foi justamente ela quem sugeriu:
� Por que a gente n�o vai para um lugar mais tranq�ilo para conversar. Vai que passa um carro da pol�cia aqui e cisma de querer abrir ocorr�ncia por causa dessa bobeirinha. Al�m disso, estou sentindo que voc� est� muito nervoso.
Acabaram indo para um bar chiqu�rrimo na Zona Sul.
� Fica tranq�ilo. � tudo por minha conta � anunciou a morena, que atraiu os olhares de todos os homens do local.
Sentaram numa mesa no cantinho. Ela pediu uma tequila. Pura. Ele preferiu uma cerveja importada.
Logo ap�s a primeira rodada, ela perguntou:
� O que est� acontecendo com voc�, gatinho. Estou sentindo uma vibra��o t�o negativa vindo de voc�.
O rapaz estava realmente tenso. Mas, instigado pela mulher e pela bebida, disparou a falar da briga com a ex-namorada, da trai��o, da raiva que estava sentindo. Quando falou de sua vontade de se vingar, os olhos da morena brilharam.
� Foi por isso, gatinho. Foi por isso que nos encontramos. Vou ser muito direta: gostei de voc�. Muito. Se voc� quiser, posso te ajudar a realizar seu plano...
Ele apenas sorriu.
Acabaram a noite num motel, fazendo sexo como ele nunca havia feito antes: intenso, agressivo, violento, arrebatador...

Naquela tarde, ele chegou na faculdade dirigindo a Ferrari. Escolheu um hor�rio perfeito: quase todo mundo estava fora da sala e viu quando a morena desceu do carro, andou at� o lado do motorista e abriu a porta para o rapaz sair. Depois, recostados no cap�, os dois se atracaram num beijo t�o ardente que alguns caras que estavam na escada chegaram a aplaudir. A gritaria na porta do pr�dio chamou a aten��o de quem estava l� dentro. E, entre as pessoas que foram at� a rua para ver o que acontecia, estava a ex-namorada do rapaz.

Pela forma como ela voltou correndo para dentro do pr�dio, ele teve certeza que sua estrat�gia tinha dado resultado. Deu um �ltimo beijo na morena e seguiu, peito inflado, rumo ao port�o. Antes de desaparecer no edif�cio, ainda ouviu a mulher gritar l� de fora:
� Eu te amo, meu garanh�o!

Aquilo foi o assunto do dia. Todos os homens de todas as turmas foram perguntar a ele quem era aquela deusa. E o rapaz, sem o menor remorso, contava que era sua amante h� meses. Falava que n�o havia terminado com a colega de turma antes por pena:
� Ela era virgem, sabe? Eu tive que ensinar tudo. E a� fiquei me sentindo mal de jog�-la fora, depois. Mas ela era muito ruim na cama. Eu s� transava por obriga��o.

Mais tarde soube que sua ex-namorada tinha passado horas chorando no banheiro e ido embora por n�o suportar mais os olhares piedosos e os risinhos abafados dos outros estudantes. Soube tamb�m que ela chegou a tentar reverter a situa��o, dizendo que tinha tra�do o rapaz e que ele tinha pau pequeno. Claro que ningu�m acreditou. Ela estava com dor-de-cotovelo.

Quando as aulas terminaram, j� no in�cio da noite, todos correram para o port�o. Queriam ver se a morena estaria l� outra vez. E ela estava. Ainda mais sexy do que na hora da entrada: usava um vestido vermelho decotad�ssimo, que mostrava muito mais do que escondia. Assim que avistou o rapaz descendo as escadarias, correu ao encontro dele, beijando-o com paix�o.

Foram direto para o mesmo motel da noite anterior. No caminho, ele contou como tinha sido a tarde e falou, entusiasmado, sobre a vingan�a. A morena sorriu maliciosamente.

Na cama, o sexo foi ainda melhor. Mais intenso, mais agressivo. Chegou a sentir dor quando a mulher cravou as unhas em suas costas, arrancando sangue. Mas o prazer era maior. Muito maior.
Pouco antes de o sol nascer, a morena o acordou com um beijo.
� Vamos, meu amor. Est� na hora.
� Na hora de qu�?
� Na hora de irmos embora.
� Para onde? N�o �amos ficar aqui at� mais tarde, como ontem?
� N�o, gatinho. Hoje � diferente. Eu j� cumpri minha parte no trato.
� Que trato? Do que voc� est� falando?
� Voc� n�o queria se vingar da sua namorada?
� Isso. E voc� se ofereceu para ajudar.
� Ent�o. Agora voc� tem que me pagar.
� T� maluca? A gente n�o combinou pagamento nenhum.
� � verdade. N�o combinamos nada. Eu me antecipei. Mas, quando vi voc� ali no seu carro, chegando no meu cruzamento, na minha encruzilhada, n�o consegui resistir. Voc� estava t�o tristinho, t�o furioso, t�o bonitinho. Havia tanto �dio... Foi como eu te disse: gostei de voc�. Mas, infelizmente, nunca fa�o nada de gra�a.
� O que voc� quer de mim?
� Quero voc�. Para sempre.
Neste momento, o rosto da morena transfigurou-se. Na penumbra do quarto, o rapaz s� conseguiu ver os olhos dela se acendendo como fogo. Apavorado, ele correu at� a porta, mas nunca chegou a alcan��-la.

Na tarde seguinte, durante o vel�rio, a ex-namorada estava catat�nica. N�o conseguia parar de pensar que, algumas horas antes, havia decidido pedir desculpas ao rapaz e contar para ele que a hist�ria do amante era simplesmente mentira.